Movimento & Cultura Samba-Rock
Samba-Rock | Samba Rock

Para quem está começando a se familiarizar com o Movimento Samba-Rock, pode parecer distante este explicar a respeito de uma cultura que se desenha diante de tantas manifestações culturais, de tantas misturas.
Não se assuste! Será partindo disso que vamos começar dizendo: O Samba-Rock é uma enorme mistura! A começar pelo nome que é composto por dois gêneros que até então caminhavam tão distintos: o Samba e o Rock.
Ao final dos anos 50, o Brasil recebia uma enxurrada de novas músicas internacionais e o Rock estava em alta nas rádios das cidades. Os músicos nos grandes festivais se dividiam entre a Bossa Nova e os afins da recém criada Jovem Guarda. Aqui em São Paulo, os salões refletiam este gosto musical internacional com grandes orquestras responsáveis pelos bailes, mas que infelizmente não eram acessíveis fisicamente e financeiramente às pessoas que moravam nas regiões periféricas da cidade, além de expressarem o reflexo do preconceito racial e social presente na vida paulistana. Com esta distância sócio-financeira tão grande passaram a ser cada vez mais comuns as festas de quintal, os bailes de garagem, onde as pessoas do bairro se reuniam para suas festas e comemorações entre familiares e vizinhos.
Influenciados pelo Rockabilly, Soul Music, Jazz, Rumba, o Mambo e tantos outros ritmos internacionais para se dançar o Samba, nasceu o dançar Samba-Rock.
Neste primeiro momento, temos a dança no seu formato “tradicional”, solta, fluída, com a dama executando os giros na grande parte e uma condução descompromissada. O swing e a ginga permeiam toda a dança que não tem passos marcados. Eles são sentidos e dançados. As mulheres são as grandes responsáveis pelo ensino da dança nas festas familiares e vão transmitindo o
conhecimento aos interessados em aprender a dança que representa uma grande carga emocional no contexto familiar, da constelação familiar.
Não demorou muito para que este estilo, também conhecido como Rockinho e Sambalanço, passasse a permear as danceterias e as festas das regiões periféricas por conta do estilo irreverente e espontâneo deste trançar de braços no dançar a dois. É neste contexto em que conhecemos os primeiros DJs, com ênfase ao seu Osvaldo primeiro DJ do Brasil, e depois as primeiras equipes de som.
O auge do movimento Samba-Rock neste primeiro momento está nas décadas de 70 e 80.
No campo musical, a primeira vez que o nome Samba-Rock foi cunhado foi com a música “Chiclete com Banana” (Almira Castilho e Gordurinha, 1959), interpretada por Jackson do Pandeiro e que em seus versos fala a respeito da mistura da música norte-americana com a brasileira. A partir daí temos o nome do estilo reconhecido até hoje.

“Aí eu vou misturar

Miami com Copacabana.

Chiclete eu misturo com banana,

E o meu samba vai ficar assim

Eu quero ver a confusão

É, um samba-rock, meu irmão”

Chiclete com Banana – 1959


Além de Samba-Rock, o estilo musical também é conhecido aqui Brasil por diversos nomes: Swing, Sambalanço, Balanço, Rock Samba e desta forma cheia de referências esta cultura foi crescendo e se difundindo.
A grande explosão musical inicial se deu com o álbum “Samba Esquema Novo” de Jorge Ben Jor, que em 1963 estreou com esta obra dançante, trazendo a sua icônica nova forma de tocar violão, referências do Rock e de João Gilberto. Uma forma acelerada, que dava “ao Samba” um estilo diferente.
Com este álbum, Jorge Ben Jor debutou no estilo e passou a ser reconhecido como o precursor do estilo no país, ainda que, até hoje, não se considere um artista do gênero. Jorge Ben Jor prefere ser reconhecido como um artista de música brasileira.
Outros grandes nomes no campo musical ficam por conta de Bebeto, Branca Di Neve, Luis Vagner, Trio Mocotó, Os Originais do Samba, Copa 5, Clube do Balanço, Sandália de Prata, Os Opalas, Paula Lima, Sambasonics, Farufyno, entre outros.

Voltando ao período de auge nas décadas de 70 e 80 o Samba-Rock esteve presente nos grandes bailes Black da cidade de São Paulo promovido pelas grandes equipes de Som como Chic Show, Kaskatas, Zimbabwe, Black Mad, Negro É Lindo e tantas outras, que lotavam casas de show e promoviam grandes bailes com diversos Djs que se especializaram no movimento Black da cidade. Neste cenário, podemos destacar também o DJ Tony Hits, que até hoje se destaca por ser um grande colecionador de discos e obras raras e tocou muito na noite paulistana.

Nos anos 80 a chegada da Disco Music ofuscou o cenário musical do Samba-Rock, que ficou até os anos 2000 afastado das grandes mídias. A dança, em contrapartida, continuou sendo praticada nas festas e bailes nostalgia, como no seu surgimento. Há uma corrente que afirma que o movimento em si, enfrenta, como diversos movimentos da historiografia, períodos de expansão e retrocesso.
Nos anos 2000, há um retorno da prática do Samba-Rock nas baladas paulistanas e também um novo projeto de expansão do ensino da dança além do cenário familiar, o que contribuiu para uma revitalização da Cultura. Novos professores despontam no cenário noturno e nas academias de dança despertando o interesse de novas pessoas no gênero. Neste contexto, temos também a presença da banda Clube do Balanço que está em atividade há 20 anos e hoje é a maior referência no campo musical.
Há também o surgimento de Casas Noturnas especializadas e dedicadas ao gênero como Diquinta e Grazie a Dio e também baladas de Black Music que dedicavam grande parte do Setlist ao gênero como Blen Blen, Teatro Mars, Mood Club, só para citar.
Esta nova roupagem com novos simpatizantes da dança e da música foi essencial para o crescimento da Cultura além dos campos familiares e que estavam adormecidos. Novos coletivos e equipes de dança foram se formando no Estado de São Paulo e o Movimento se difundindo. Foi um novo período de ascensão.


Samba-Rock Patrimônio Cultural e Imaterial


Em 2016, após a reunião de diversos documentos e dados com relação a trajetória do Movimento Samba-Rock juntados por uma comissão de músicos, produtores, dançarinos e estudiosos da área, o Samba-Rock foi tombado como Patrimônio Cultural e Imaterial da

cidade de São Paulo pela Secretaria da Promoção da Igualdade Racial e a data escolhida em sua comemoração passou a ser 31 Agosto em celebração ao aniversário de Jackson do Pandeiro.